Segue um dos mais belos trechos da literatura que tive contato. Conto de Górki, escritor russo de estirpe inegável, datado de 1897, chamado Malva. Descrição como poucas é o que se segue! Visão e Situação dos trabalhadores!
O ranger das correntes, o rodar dos vagões carregados de mercadorias, o rumor metálico das placas de ferro caindo, as sereias dos vapores, os gritos dos marinheiros e dos guardas, todos esses ruídos, tornando por assim dizer a atmosfera mais densa, como que se fundem num todo uníssono e vibrante, formidável clamor do trabalho humano, pululando, repercutindo, agitando-se sem tréguas.
O granito, o ferro, as barcas e os homens, aglomeração imensa de vida e de labor, erguem que como um hino sagrado, ao deus do Tráfego. Mas neste brouhaka confuso, as vozes dos homens são afogadas por todos os outros ruídos, e eles próprios se sentem pequenos e nulos diante da grandeza imponente que os rodeia. Cobertos de farrapos, curvados sob a s cargas enormes, agitam-se como vermes numa atmosfera abrasada e irrespirável, humilhados na sua insignificância, ao lado de colossos de ferro, das montanhas de mercadorias, dos comboios que correm vertiginosamente, de todas essas coisas, enfim, feitas de pequeninos nadas que as sua mãos ajuntaram num todo uniforme e vivo. A sua obra escraviza-os, anula-lhes a personalidade.
Os barcos gigantescos resfolegam como monstros de outras eras, parecendo porém cada silvo agudo uma nota de ironia e desprezo por esses homens que se arrastam sobre as pontes e vão encher-lhes os flancos com seus produtos do seu labor de escravos. As grandes filas de descarregadores tem o que quer que seja de ridículo e lúgubre. Curvados e anelantes, transportam enormes quantidades de trigo para goela insaciável daqueles ventres de ferro, a troco de uma miserável remuneração que mal lhes chegara para matar a fome. Esfarrapados, cobertos de suor, embrutecidos pela fadiga e pelo calor, que profunda ironia o contraste destas figuras lúgubres ao lados das máquinas reluzentes e poderosas, construídas pelas suas mãos, movidas pelos seus músculos e pelo seu sangue!
O ruído ensurdece, o pó irrita as narinas; tudo tem o aspecto de uma saturação de força latente prestes a rebentar nalguma catástrofe formidável, depois da qual o ar de novo se torne respirável, o céu readquira seu brilho, e a vida volte a tranqüilidade pacifica do seu labor natural. Mas isto não é mais do que uma ilusão criada pela esperança infatigável do homem e por essa aspiração de liberdade, imperecível e sempre ardente.
Soaram doze badaladas com uma sonoridade majestosa. O ruído confuso do trabalho foi se amortecendo pouco a pouco , como uma grande tempestade que se acalma. Apenas um murmúrio surdo errava pelas docas, onde se confundiam a voz do mar e a voz dos homens. Era hora da refeição.
(Máximo Gorki – Os Vagabundos – “Malva” – 1897)
O ranger das correntes, o rodar dos vagões carregados de mercadorias, o rumor metálico das placas de ferro caindo, as sereias dos vapores, os gritos dos marinheiros e dos guardas, todos esses ruídos, tornando por assim dizer a atmosfera mais densa, como que se fundem num todo uníssono e vibrante, formidável clamor do trabalho humano, pululando, repercutindo, agitando-se sem tréguas.
O granito, o ferro, as barcas e os homens, aglomeração imensa de vida e de labor, erguem que como um hino sagrado, ao deus do Tráfego. Mas neste brouhaka confuso, as vozes dos homens são afogadas por todos os outros ruídos, e eles próprios se sentem pequenos e nulos diante da grandeza imponente que os rodeia. Cobertos de farrapos, curvados sob a s cargas enormes, agitam-se como vermes numa atmosfera abrasada e irrespirável, humilhados na sua insignificância, ao lado de colossos de ferro, das montanhas de mercadorias, dos comboios que correm vertiginosamente, de todas essas coisas, enfim, feitas de pequeninos nadas que as sua mãos ajuntaram num todo uniforme e vivo. A sua obra escraviza-os, anula-lhes a personalidade.
Os barcos gigantescos resfolegam como monstros de outras eras, parecendo porém cada silvo agudo uma nota de ironia e desprezo por esses homens que se arrastam sobre as pontes e vão encher-lhes os flancos com seus produtos do seu labor de escravos. As grandes filas de descarregadores tem o que quer que seja de ridículo e lúgubre. Curvados e anelantes, transportam enormes quantidades de trigo para goela insaciável daqueles ventres de ferro, a troco de uma miserável remuneração que mal lhes chegara para matar a fome. Esfarrapados, cobertos de suor, embrutecidos pela fadiga e pelo calor, que profunda ironia o contraste destas figuras lúgubres ao lados das máquinas reluzentes e poderosas, construídas pelas suas mãos, movidas pelos seus músculos e pelo seu sangue!
O ruído ensurdece, o pó irrita as narinas; tudo tem o aspecto de uma saturação de força latente prestes a rebentar nalguma catástrofe formidável, depois da qual o ar de novo se torne respirável, o céu readquira seu brilho, e a vida volte a tranqüilidade pacifica do seu labor natural. Mas isto não é mais do que uma ilusão criada pela esperança infatigável do homem e por essa aspiração de liberdade, imperecível e sempre ardente.
Soaram doze badaladas com uma sonoridade majestosa. O ruído confuso do trabalho foi se amortecendo pouco a pouco , como uma grande tempestade que se acalma. Apenas um murmúrio surdo errava pelas docas, onde se confundiam a voz do mar e a voz dos homens. Era hora da refeição.
(Máximo Gorki – Os Vagabundos – “Malva” – 1897)
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