07 outubro, 2009

Cara e Coroa [ parte 01 ]

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Devaneio total sobre Botafogo Futebol e Regatas, Leon Trotsky e Trotskismo


Antes que me acusem de diletante forçoso no exercício de unir categorias diacrônicas busco salientar que a dimensão deste texto não busca o reconhecimento de quem quer que seja nem tão pouco a aceitação de normas epistemológicas mais sérias. A intenção restrita repousa em uma solução coerente para ilações que nunca foram muito convincentes as pessoas ao meu redor e que puderam compartilhar como tantos outros um aspecto marcante que carrego comigo: eu sou antes de qualquer coisa, ou melhor dizendo, a minha condição para ser, é que sou um trotskista alvinegro enaltecido pela magia de carregar uma estrela solitária e certo de que a classe operária através de suas organizações é única força motriz da sociedade capaz de direcionar a humanidade para longe da barbárie para seguir assim rumo a uma sociedade sem exploração.

O exercício destas linhas não teve sua aurora por agora. É certo que há pelo menos um decênio uma dúvida me assombrava de modo angustiante, fazendo com que por diversas oportunidades, eu me penitenciasse sem ser julgado por ninguém além de minha própria consciência confusa. Era possível ultrapassar um competente crivo marxista, e afirmar minha concepção política, tendo uma dedicação apaixonante por um clube de regatas e futebol? Estaria eu incorrendo em um erro de princípio ao deixar com que um escudo e sua prática no futebol atuasse como a mais categórica alienação das obras juvenis de Marx? Buscava eu – uma versão de Quixote carregando consigo uma foice e um martelo nas mãos e protegido por uma manta alvinegra, conciliar elementos contraditórios em sua essência? Ou ainda refletia sob uma outra perspectiva: seria eu digno de entoar o mais belo dos cânticos de Lamartine Babo sabendo que uma outra canção de A INTERNACIONAL acabava me fazendo tão efusivo quanto? Poderia eu comemorar um gol ao lado direito do Maracanã abraçando aquele que na segunda feira abre seus portões para extrair a mais valia da força de trabalho de milhares? Como tripudiar em cima de alguém, ameaçando a unidade de classe, depois de uma vitória efusiva se de fato somos todos contra os senhores?

E permito aqui confidenciar que penosa hesitação habitou horas incalculáveis de meus pensamentos. Buscava sempre uma resolução que me desse licença - sem ser onerosa a consciência - para manter vivo dois sentimentos incapazes de desaparecer voluntariamente de mim. Sentimentos que pareciam digladiar de forma constante em busca de uma simples primazia em minhas reflexões. Sentimentos que insistiam no ato perpétuo de buscar a supressão um do outro.

O caminho por onde seguia minha indecisão chegava ao ponto crucial dos caminhos literários: uma encruzilhada. Não era permitido avançar um passo sequer sem que renunciasse a qualquer um dos sentimentos, tendo ainda o pesado fardo consciente de que a renúncia significaria naquele momento mais do que o sepultamento de emoção tão pura, era mais do que isso. A renúncia significava a negação de parte da minha própria existência. A renúncia significava que aqueles com que por muito tempo debati e que algumas vezes convenci, acabavam sem esforço nenhum reafirmando todas aquelas estranhas posições por sobre as minhas. Não por eles, mas por mim mesmo, em uma disputa retórica inteiramente subjetiva e silenciosa.

Era estranho chegar até ali e me ver pensando em tudo isso. Talvez fosse mais fácil – e sim, seria! – lançar mão de uma sorte casual e decidir. Pronto. Decisão é decisão. Não cabe contestação. Mas não! Eu, marxista, convencido dos princípios da dialética materialista, refém da sorte? Talvez meu orgulho, o mais íntimo, na busca de uma ortodoxia inalcançável tenha me salvado de uma surda disputa entre a cara e a coroa!










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