08 outubro, 2009

Cara e Coroa [ parte 02 ]

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Devaneio total sobre Botafogo Futebol e Regatas, Leon Trotsky e Trotskismo


Ali parei em busca de uma solução definitiva para este imbróglio. Resolvi pensar em cada detalhe, em cada hipótese colocada para não deixar brecha e nem vacilo algum em meu cerebelo. Era minha intenção uma solução hermética, incapaz de ser importunada por qualquer argüição. Então comecei. Antes de qualquer coisa precisava de elementos capazes de me situar naquele redemoinho de informações.

“Trotskismo!”. “Marxismo!”. “Meios de Produção!”. Pronto. Chegava até esse ponto. No Brasil a riqueza, os meios de produção, a burguesia capaz de formar seus próprios coveiros, estavam localizados em um eixo principal: Rio – São Paulo. Ali entre tais estados deveria estar obrigatoriamente minha agremiação futebolística politicamente correta. Tal opção consciente era um primeiro passo para conservar meus sentimentos de modo pacífico. Mas ora, existem tantas, quase inumeráveis equipes, clubes e grêmios recreativos. Resolvi pensar então que para os trotskistas não necessariamente é necessário que esteja em um grande partido de massas, mas é inegável que existe a necessidade de se incorporar de alguma forma ao movimento de massas. Aquelas organizações que não conseguem reunir mais de uma centena de adeptos a sua causa não passam de seitas histéricas que fazem da denúncia sua prática maior.

Limitava desse modo minha consciência grandes clubes que se ligavam pela Rodovia Presidente Dutra. Comecei então a pensar em cada um, me corroendo de receio de eu mesmo descobrir que estava errado. Receio que acabou comprovado sem razão, pois ali estava o começo de uma redenção para minha total existência, um início da linha de argumentos irrefutáveis que demonstrarei a seguir.

Descartei clubes identificados a elementos estranhos à tradição revolucionária. No Rio dois clubes já ficavam pelo caminho. Como conciliar uma atividade política com o nome de um colonizador Português? Ou ainda como seria torcer por um time cujo nome remetia a antiga região belga de Flandres colonizada pela Holanda, a mesma Holanda que por anos pilhou nossos irmãos pernambucanos? Não seria a mais alta bravata de todas!? Comprovava que tal feito não era possível, para minha imensa alegria. Em São Paulo, pensava em uma agremiação que carregava consigo uma propaganda perene de elementos religiosos, intermediários divinos em solo terreno, não! Seria demais! Restavam dessa forma cinco escolhas. Os dois times das três cores (três cores também eram as cores da grande revolução burguesa liberal ao final do século XVIII) estavam identificados com a aristocracia brasileira, sendo assim descartados de forma incisiva. O escopo da escolha diminuía para três. Ali residia meu futuro! Pois bem, me lembrei dos porcos de Orwell, metáfora de uma obra de envergadura mundial, que representava muito bem o totalitarismo soviético, os Processos de Moscou a partir da década de 30 que se afastava cada vez mais das concepções de Marx, Engels, Lênin e Trotsky na busca do socialismo. Não poderia adotar porcos no prosseguimento do meu caminho e concilia-los com uma concepção política metaforicamente definida como “anti-porcos”. Rejeito categoricamente a camarilha burocrática soviética e assim todos os seus símbolos e metáforas. Duas opções ficavam naquele momento. E para não me acusarem de ficar com a opção que restou, como se essa fosse detivesse menor mérito, a escolha entre as duas últimas opções foi feita de forma positiva. Não neguei alguma para escolher outra, parti do critério que escolhendo uma, a outra concorrente estaria automaticamente negada, e assim foi feito. Aqui cabe ressaltar, antes de dar prosseguimento, que não tenho dúvidas de que se essa fosse a metodologia utilizada no início de nosso processo investigativo o resultado final seria o mesmo. Frente as minhas escolhas restantes a tarefa era mais singela do que poderia imaginar.

Ao pronunciar os dois nomes das agremiações colocadas, fiquei entre a que incitava as massas a uma medida de rebeldia e outra opção que nada colocava para as massas a não ser um emaranhado de consoantes estranhos à fonética da Língua Portuguesa. Estava entre uma palavra de ordem que dialogava em certo sentido com os trabalhadores para que esses se sublevassem contra as normatizações legais de nossa sociedade e uma outra que confundia, que não se traduzia em atividade prática nenhuma. Minha escolha estava feita, mas a tarefa estava longe de ser concluída. Ainda restava justificativas que me assegurassem minha existência plena.

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